Criada em 01/11/2022 às 09h34 | Pesquisa

Sorgo é capaz de reduzir custos na ração e controlar parasitos em tambaqui

Uso do cereal abre possibilidade para o tratamento de parasitos nos peixes sem o uso de químicos. O emprego do sorgo ainda ajuda a reduzir o principal custo de produção das pisciculturas: o da alimentação.

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Os resultados com o sorgo de alto tanino indicam redução de parasitos responsáveis por problemas que afetam a criação e a produção na piscicultura. (Foto: Divulgação)

Resultados de pesquisa realizada na Embrapa Amazônia Ocidental (AM) indicam que a inclusão de 40% de sorgo de baixo tanino na alimentação tornou a ração para tambaqui (Colossoma macropomum) mais econômica, sem comprometer o crescimento dos peixes. Esse estudo ainda mostrou que a ração com o sorgo de alto tanino propiciou significativa redução e controle dos parasitos que afetam a criação desse peixe. O objetivo da pesquisa foi reduzir os custos da ração e controlar os parasitas que afetam a criação do tambaqui, a espécie nativa mais produzida em piscicultura no Brasil.

Na avaliação das rações experimentais, os resultados com o sorgo de alto tanino indicam redução de 44% de acantocéfalos e de 83% dos monogeneas. Esses parasitos representam importantes problemas que afetam a criação e reduzem a produção na piscicultura. “Os valores obtidos na pesquisa são considerados promissores para a busca de ingredientes que associem a nutrição e sanidade de peixes, sem o uso de químicos e sem comprometer a qualidade do pescado”, declara a pesquisadora da Embrapa Cheila Boijink, que desenvolve pesquisas em sanidade de peixes, e coordenou o estudo por meio do projeto “Avaliação de taninos em dietas para juvenis de tambaqui no controle de helmintos e desempenho zootécnico”. O projeto de pesquisa foi realizado de 2019 a 2021, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). No estudo foram avaliados taninos na forma hidrolisável (ácido tânico) e condensado (sorgo de alto tanino), com o intuito de identificar se eles possuem ação anti-helmíntica e não prejudicam a aceitação e o desempenho zootécnico dos animais.

Produto natural antiparasitário

O uso de fontes vegetais na alimentação de peixes tem aumentado nos últimos anos, a fim de atender à demanda por rações e sustentar o desenvolvimento da produção aquícola. Uma das alternativas é o uso de compostos derivados de plantas, devido ao pouco ou nenhum efeito colateral nos peixes e ao meio ambiente e que é uma prática agrícola mais sustentável. Os produtos naturais, com conhecida propriedade antiparasitária, são considerados uma alternativa potencial, e entre esses compostos está o tanino, presente em várias plantas como o sorgo.

De acordo com Boijink, os resultados obtidos mostram que os taninos são eficientes para o controle de helmintos, podendo ser utilizados na ração como um ingrediente alternativo natural, sem prejudicar o desempenho animal. Essa linha de pesquisa já vem sendo desenvolvida pelos pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental, os quais anteriormente comprovaram que outra fonte de tanino, os resíduos da bananeira, também é eficiente no controle de helmintos em tambaqui.

Em busca de ingredientes alternativos

Como a alimentação dos peixes na piscicultura corresponde a cerca de 70% dos custos totais de produção, pesquisas da Embrapa Amazônia Ocidental têm buscado alternativas com base na avaliação de ingredientes não convencionais no estado do Amazonas que possam reduzir o custo da ração para o tambaqui. “Com uma alimentação mais econômica, ao fim do ciclo, os custos serão inferiores aos de uma produção com o uso de rações convencionais que utilizam como base o farelo de soja e o milho, commodities que possuem alta oscilação de valor no mercado internacional. Além disso, o Amazonas obtém parte significativa de ingredientes e rações dos estados vizinhos, o que onera ainda mais o piscicultor amazonense, que paga pelo custo logístico desta obtenção”, explica o pesquisador da Embrapa Jony Dairiki, que atua em Nutrição e Alimentação de espécies aquícolas da Amazônia, e participou da pesquisa.

Dairiki observa que o sorgo (Sorghum bicolor) é um ingrediente energético de origem vegetal, com composição semelhante ao milho, porém, é um alimento com menor custo de produção se comparado ao milho. Por isso, o sorgo foi escolhido para avaliação como uma opção de matéria-prima, considerando que o custo da ração poderia ser menor com a maior inclusão de sorgo na dieta dos peixes.

O pesquisador informa que o plantio do sorgo se destaca pela sua rusticidade, possibilidade de cultivo na entressafra e em solos mais pobres em fertilidade e com déficit hídrico. A planta de sorgo produz grãos e matéria seca para composição de forragem que contribuem na alimentação animal, e o tanino é uma substância química natural do grão de sorgo.

A pesquisa identificou que a utilização de sorgo de baixo tanino para nutrição de juvenis de tambaqui em substituição ao milho propiciou uma redução de 27,4% no custo da alimentação quando o nível de inclusão desse ingrediente foi de 40%.

Outro dado importante é que o sorgo de alto tanino pode ser utilizado em dietas para tambaquis em até 45% de inclusão na formulação, sem nenhum efeito adverso ao desempenho animal, em um período de até 45 dias. Os pesquisadores acrescentam que estudos posteriores com animais para engorda e com maior período experimental precisam ser realizados para complementaridade da pesquisa, além da importante validação em pisciculturas locais. (Da Embrapa)

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