Criada em 09/10/2017 às 19h36 | Pecuária

Pecuária: Segmentos sugerem protótipos de inovação

Depois de detectar obstáculos para os temas risco na agropecuária, nutrição animal, fertilidade do solo, sistemas de produção, fazendas inteligentes e forrageiras, o público foi convidado a sugerir soluções por meio da metodologia Design Thinking.

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Evento teve participação de cerca de cem representantes de diversos segmentos da atividade econômica e culminou com oito protótipos de inovação desenhados pelos participantes (Laura Souza/Embrapa/Divulgação)

Obstáculos que impedem ou dificultam a inovação em pastagens e, consequentemente, o avanço da pecuária brasileira foram diagnosticados no Encontro de Inovação em Pastagens, realizado recentemente, em São Carlos. O evento, promovido pela Embrapa Pecuária Sudeste, envolveu cerca de cem representantes de diversos segmentos da atividade econômica e culminou com oito protótipos de inovação desenhados pelos participantes.

Depois de detectar esses obstáculos para os temas risco na agropecuária, nutrição animal, fertilidade do solo, sistemas de produção, fazendas inteligentes e forrageiras, o público foi convidado a sugerir soluções por meio da metodologia Design Thinking, que estimula a proposição de ideias inovadoras. Cada mesa entregou um protótipo do que entende ser uma solução para encarar o problema apontado. Todo o material está sendo processado pela Embrapa Pecuária Sudeste e em breve será divulgado.

Na abertura do Encontro de Inovação em Pastagens, pela manhã, a líder do projeto Pecuária do Futuro, pesquisadora Patrícia Menezes Santos, lembrou que o momento era de “viajar pelo mundo das ideias” e “sonhar com a pecuária do futuro”. O chefe geral da Embrapa Pecuária Sudeste, Rui Machado, agradeceu a todos que colaboraram e afirmou que o foco da Unidade é a pecuária sustentável, produtiva e intensiva.

Pela manhã, um grupo menor de stakeholders do projeto mencionado acima participou de outra dinâmica. A partir da metodologia do World Café, três mesas em sistema de rodízio debateram duas perguntas sobre a pecuária do futuro. 1) A agricultura 4.0 afetará o mercado como um todo e trará novos modelos de negócios. Como a Pecuária do Futuro deve se preparar para lidar com essas mudanças e o que ela poderá oferecer para a sociedade? 2) A partir de um primeiro levantamento com stakeholders, o projeto Pecuária do Futuro entregará para o setor produtivo sistemas de tomada de decisão para o produtor rural. Em sua opinião, de que forma essas ferramentas poderão contribuir e quais impactos terão na pecuária?

A primeira moderadora, Mônika Bergamaschi, da Abag/Ribeirão Preto, apresentou os resultados da discussão, que constatou a existência de muitas tecnologias disponíveis, mas a falta de extensão rural para entregá-las ao produtor, fazendo com que muitos ainda pratiquem a agricultura 1.0. Essa mesa levantou que mesmo tecnologias simples, como a escolha de uma forrageira, pode significar um salto para a agricultura 4.0 no caso de um pequeno produtor.

O segundo moderador, Paulo Cesar Sentelhas, professor da Esalq-USP, colocou que para se chegar à pecuária 4.0 é preciso partir de um diagnóstico que gere demandas mais específicas (até regionais) para a pesquisa. “As ferramentas devem atender a problemas reais”, disse. O grupo também considerou as políticas públicas para o setor extremamente importantes e alertou para a falta de infraestrutura no campo. Paulo acrescentou que a ferramenta para auxiliar na tomada de decisões que o projeto Pecuária do Futuro pretende criar poderá melhorar a gestão e, consequentemente, a produtividade da pecuária. O grupo apontou ainda que conhecer a variabilidade climática é fundamental.

O terceiro moderador, o consultor Jalme de Souza Fernandes Júnior, mostrou que para o grupo a pecuária 4.0 depende de tecnologias que causem impacto e de ferramentas realmente efetivas. Os participantes dessa discussão apontaram que as ferramentas de alerta aos produtores são muito importantes. A noção é de que os pecuaristas utilizam pouca tecnologia – a internet nem está acessível em regiões mais remotas.

Entre uma dinâmica e outra, o público acompanhou seis palestras. Veja abaixo um resumo de cada uma delas:

PLANTAS FORRAGEIRAS

O pesquisador Francisco Dübbern de Souza, da Embrapa Pecuária Sudeste, lembrou que ao longo do tempo as forrageiras foram incorporadas a diversos outros usos além da produção de leite e carne: ornamentação, palhada para plantio direto, cobertura de margens de rodovia, embalagens, artesanato e outros. Ele apresentou desafios como a necessidade de aumentar o número de cultivares de pastagens adaptadas às diferentes condições ambientais e de manejo; a marcante estacionalidade da produção de forragens; a baixa qualidade nutricional das plantas forrageiras tropicais; o predomínio de pastagens formadas com espécies exóticas; os impactos potenciais das mudanças climáticas, entre outros. Em seguida falou sobre avanços que a pesquisa pode proporcionar em um futuro que está chegando. Alguns deles: sementes com sensores ambientais genéticos indicativos do momento ideal para a germinação; cultivares de gramíneas com propriedade medicinais; associações mutualísticas entre plantas e microorganismos para aumento da digestibilidade das gramíneas; aumento da eficiência na absorção e/ou na utilização de água pelas plantas. Para a construção do futuro da pecuária, Francisco indicou como determinantes os bancos de germoplasma e o uso de espécies nativas em pastagens cultivadas. “Por que não?”, concluiu.

GESTÃO DE RISCOS

O ex-ministro da Agricultura (2007-2008) Luis Carlos Guedes Pinto decidiu improvisar uma palestra no evento ao perceber que precisava passar alguns recados aos participantes. De acordo com ele, o maior risco para o pecuarista é o frigorífico e o maior risco para o frigorífico é o pecuarista. Essa relação “de muita desconfiança, conflituosa e até selvagem” precisa ser resolvida. A solução, segundo ele, é estabelecer um padrão de contrato que assegure segurança mínima e previsibilidade para as partes. Guedes também vê necessidade de um processo de formatação de preços para a agricultura e formulação de políticas adequadas. Lamentou que o país ainda não tenha superado problemas sérios, como a febre aftosa e a brucelose, doenças que já desapareceram de outras partes do mundo. Também sugeriu a implementação efetiva de um programa de rastreabilidade no Brasil. O ex-ministro disse ainda que o país gera tecnologias para o setor, mas elas não chegam ao produtor e indicou que o crédito é um forte indutor para a implantação dessas tecnologias. “Só o uso de tecnologia reduz o risco”, afirmou.

A SUSTENTABILIDADE

Luis Fernando Guedes Pinto, da Imaflora, apresentou o conceito clássico de sustentabilidade, mesmo admitindo que se trata de uma definição difícil. “Os atores criam definições de acordo com seus interesses. Sustentabilidade é um processo, a gente nunca chega lá”, explicou. Segundo ele, ainda é um conceito muito filosófico, que evolui com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Luis Fernando afirmou que é preciso entender os interesses dos outros, aceitando ou não. A certificação é a forma de materializar a sustentabilidade, mas os selos de certificação só terão valor se houver acordo entre os segmentos envolvidos. O palestrante apontou também que os processos de certificação geralmente são excludentes e geralmente atingem os grandes produtores. A Imaflora apresentou um modelo de certificação coletiva, que conseguiu incluir pequenos e médios no processo. Outra informação interessante apresentada por ele é que a maior vantagem econômica da certificação está dentro da fazenda, e não fora, como se imaginava.

TENDÊNCIAS ECONÔMICAS

O palestrante Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, começou apresentando um estudo de 150 anos de dados e preços de produtos agrícolas e constatou que, entre todos os alimentos pesquisados no período, apenas a carne vermelha subiu de preço. “Tivemos um grande salto de produtividade na agricultura, mas a pecuária ainda tem problemas sérios, como fêmeas que produzem um bezerro por ano, as variações nos preços dos grãos, e outros”, afirmou. O tripé que explicava o sucesso das atividades agropecuárias no século passado (mecanização, genética e nutrição de plantas) já não responde à realidade atual, já que surgiu algo novo: as tecnologias da informação. Alexandre apresentou dados mundiais de produção e exportação de carne, situando o Brasil nesse contexto. E deixou dúvidas: “O Brasil tem 220 milhões de cabeças e o abate caiu 6 milhões. Como um rebanho cresce e o abate cai com a alta na produtividade que temos observado?” Segundo ele, os recentes escândalos de corrupção vão obrigar o país a reabrir mercados. “Mas há demanda para crescer, e possivelmente rápida”, apontou, ao lembrar que a crise derrubou o consumo interno de carne de 36 quilos/habitante para 26 quilos/habitante em quatro anos. Outra questão relevante colocada por ele foi sobre a cria. “Para onde vai? Vai ser no Pantanal? Em áreas marginais? A intensificação em cria é um problema. Um grande enigma, ainda sem resposta.”

NANOTECNOLOGIA E FERTILIZANTES

Cauê Ribeiro de Oliveira, da Embrapa Instrumentação (São Carlos-SP), começou informando os dez anos de atuação da Rede Agronano, que tem permitido avanços significativos da pesquisa nessa área. Ele apresentou conceitos ligados ao aumento da eficiência de um insumo: liberação comum, liberação lenta e liberação controlada. “Hoje é possível obter vários tempos de liberação com uma única aplicação dos fertilizantes”, explicou. De acordo com o pesquisador, é possível aumentar a eficiência diminuindo ou controlando a solubilidade de uma partícula muito solúvel (por meio de sistemas de liberação lenta ou controlada e de filmes finos de proteção) ou aumentando a solubilidade de uma partícula insolúvel (nanopartículas de óxidos, sais e outros). Ele apresentou informações técnicas sobre nanocompósitos fertilizantes e sobre estruturas reticuladas (hidrogéis).

As transformações no sistema de informação à sociedade e as estratégias em comunicação, Jorge Duarte, jornalista da Secretaria de Comunicação da Embrapa (Brasília-DF), mostrou a importância da comunicação estratégica nas organizações na primeira parte de sua palestra. Utilizando conceitos contemporâneos da comunicação, explicou que comunicar é diferente de informar e que a comunicação só se concretiza na recepção. “O receptor é o dono da comunicação. Ele a define”, disse. Pontuou também que a comunicação é meio, e não um fim – e tem um começo, mas não tem fim, “é um processo contínuo”. Como recomendações aos representantes de organizações presentes, Duarte sugeriu que se busque soluções, e não ferramentas. “Profissionalize!”. Em um segundo momento, o comunicador apresentou um levantamento feito com oito jornalistas que atuam no agro e se manifestaram a respeito da imagem da pecuária. O público pode acompanhar, por meio de frases desses jornalistas, como eles percebem que a sociedade enxerga a atividade, os erros e os desafios para o setor.

O Encontro Inovação em Pastagens teve como patrocinadores a Unipasto, Bellman/ Trouw Nutrition, Elanco, Agroceres, Case H e Sempa Sementes. (Da Embrapa)

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