Criada em 12/08/2021 às 09h23 | Pesquisa

Pesquisa cria curativo versátil à base de nanofibra e composto extraído do açafrão

Já com pedido de patente depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o curativo multifuncional, de forte ação antibacteriana, libera lentamente compostos bioativos para o tratamento de feridas.

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Curativo libera lentamente compostos bioativos do açafrão para o tratamento de feridas. (Foto: Embrapa)

É do encontro da nanotecnologia com a biotecnologia, da combinação de compósitos biodegradáveis e de uma porção de curcumina, substância encontrada no pó dourado do açafrão-da-terra, que pesquisadores de São Carlos (SP) projetaram um novo modelo de curativo cutâneo multifuncional para tratamento de feridas. Além de driblar as limitações da curcumina, ele é capaz de liberar o princípio ativo contido no interior do curativo, de forma controlada, o que nem sempre ocorre em versões tradicionais.

Embora apresente diversas propriedades medicinais, como atividade bactericida, antioxidante e anti-inflamatória, a aplicação da curcumina é limitada por sua baixa solubilidade e fácil degradação na presença de luz. Para vencer essas barreiras, os pesquisadores criaram um nanomaterial baseado em membranas poliméricas bicamadas, compostas por fibras eletrofiadas de poliácido láctico e borracha natural.

O resultado obtido abre caminho para ampliar o uso de curativos multifuncionais nesse modelo, de liberação lenta de compostos bioativos para tratamento de queimaduras e úlceras, por exemplo. 

Em ensaios de laboratório, o curativo evitou a penetração de bactérias por dez dias e demonstrou forte ação antibacteriana contra a Staphylococcus aureus, bactéria geralmente presente em feridas cutâneas e associada a infecções de pele.

O curativo pode ser disponibilizado como mantas de nanofibras, em diversos formatos, apropriado à aplicação em ferimentos cutâneos. Ao mesmo tempo em que protegem as lesões de ações externas, como exposição à luz solar e contaminação, o curativo também diminui a infecção por bactérias. 

Já com pedido de patente depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o próximo passo é prospectar parceiros interessados em avançar no desenvolvimento do produto e realizar testes em escala para entrada no mercado.

Proteção em duas camadas

O modelo-piloto apresenta importantes propriedades, como flexibilidade e elasticidade, além de biodegradabilidade e biocompatibilidade e capacidade de realizar trocas gasosas, que auxiliam no processo de cicatrização da pele.

Estas características vantajosas se devem à composição e ao design das nanofibras poliméricas que compõem o curativo. Elassão formadas por duas membranas produzidas por eletrofiação,cada uma com funções distintas. 

Corrêa explica que a camada inferior, que entra em contato com a pele, é composta por uma mistura biodegradável de microfibras de poliácido láctico (PLA) e de borracha natural (BN) contendo o composto bioativo curcumina. “Já a camada superior, exposta ao meio externo, composta apenas por nanofibras de PLA, cumpriu função dupla: fez a proteção da curcumina - contida na camada inferior - contra a fotodegradação e evitou a penetração bacteriana externa”, acrescenta o cientista. 

Uso de polímeros combinados

Atualmente cerca de 75 polímeros naturais ou sintéticos são empregados para produção de nanofibras por eletrofiação. Paulo Chagas esclarece que a escolha do polímero ou da combinação de polímeros, como blendas, varia de acordo com sua aplicação, propriedades mecânicas, térmicas e biológicas.

“Entre os polímeros naturais, o látex extraído da seringueira apresenta em sua composição borracha natural, água, proteínas, lipídeos e tem sido bastante empregado como biomaterial devido às suas propriedades físicas, biocompatibilidade, ausência de toxicidade, indução da angiogênese e reparação tecidual. O material vem sendo apontado como um potencial curativo para liberação controlada”, avalia o engenheiro biotecnológico.

Já o PLA é um biopolímero semicristalino ou amorfo, biocompatível e biodegradável, com diferentes aplicações, como uso em embalagens de alimentos, em filtros de ar e liberação controlada de fármacos. É derivado da fermentação de fontes renováveis, como amido de milho, cana-de-açúcar e batata, sendo produzido em larga escala e é considerado como um substituto para certas aplicações de polímeros oriundos de fontes não renováveis.

“Por essas propriedades e características, o PLA tem sido amplamente empregado na produção de nanofibras para liberação de inúmeros compostos como óleos essenciais, agente antibacteriano, entre outros”, acrescenta Chagas. (Da Embrapa)

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