Criada em 06/09/2023 às 09h43 | Pesquisa

Plantio direto a lanço acelera a recuperação de pastagens degradadas

Plantio direto a lanço tem sido usado no Acre em substituição ao plantio mecanizado. Pesquisa mostra que esse tipo de plantio é capaz de diminuir pela metade o tempo para formação da pastagem, com benefícios ambientais.

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O plantio direto com semeadura a lanço possibilita recuperar a capacidade produtiva de pastagens degradadas com maior agilidade e menores custos. Na foto, pasto com capim Zuri. (Foto: Divulgação)

Pesquisas realizadas pela Embrapa com produtores do Acre apontam que o plantio direto com semeadura a lanço possibilita recuperar a capacidade produtiva de pastagens degradadas com maior agilidade, menor investimento financeiro e sustentabilidade. Além de reduzir pela metade o tempo para formação e estabelecimento da pastagem, essa modalidade de plantio proporciona economia de até 15% no custo do processo de reforma e diminui os impactos ambientais da atividade pecuária.

A Embrapa Acre estuda o plantio direto de forrageiras desde 2011, com o objetivo de disponibilizar alternativas sustentáveis para a reforma de pastagens, em substituição ao método mecanizado. A modalidade a lanço foi testada e recomendada para o capim-xaraés (também conhecido como capim-MG5) e piatã, únicas cultivares de Brachiaria brizantha recomendadas para o Acre.

Segundo o pesquisador Carlos Maurício Andrade, responsável pelos estudos, mais de 80% das propriedades rurais acreanas apresentam solos com baixa permeabilidade, sujeitos ao encharcamento durante a estação chuvosa. O capim-xaraés é a cultivar mais plantada atualmente no Acre, por sua alta produtividade e boa tolerância ao encharcamento do solo. Já o capim-piatã é recomendado para áreas menos sujeitas ao encharcamento do solo. Em muitas localidades, a combinação de solos encharcados com relevo acidentado aumenta o risco de erosão e dificulta o uso de mecanização na renovação de pastagens.

“O plantio direto a lanço é eficaz para reformar pastagens degradadas, sem exposição do solo a processos erosivos. A reforma com uso da técnica, desde os cuidados iniciais com a área até o primeiro pastejo, leva de 90 a 100 dias, enquanto no método convencional pode durar até 150 dias. Além de encurtar o tempo que a pastagem permanece sem uso durante a reforma e reduzir custos para o produtor, o plantio direto a lanço contribui para a manutenção da rentabilidade do sistema produtivo e pode ajudar a desenvolver a pecuária a pasto na Amazônia, com sustentabilidade”, ressalta o especialista.

Pastagens duradouras

A degradação de pastagens prejudica a produtividade de forragem e reduz o desempenho do rebanho, com prejuízos para os produtores rurais e para o meio ambiente. Segundo dados do MapBiomas Brasil, plataforma que reúne informações sobre a cobertura e uso da terra no País, somente na Amazônia existem 55 milhões de hectares de pastagens, dos quais 57% apresentam degradação moderada a severa. No Acre, aproximadamente 479 mil hectares de pastagens estão nessa situação. O problema tem como causa principal a Síndrome da Morte do Braquiarão (SMB), doença decorrente do encharcamento do solo. O plantio direto de forrageiras a lanço tem contribuído para a recuperação dessas áreas.

Há seis anos, o pecuarista Fábio Medeiros trocou o método convencional pelo plantio direto a lanço na reforma de pastagens das fazendas Filipinas, localizada no município de Xapuri, e São Joaquim, em Brasiléia, região do Alto Acre. Ele iniciou com 100 hectares e, atualmente, são 6.400 hectares reformados com a técnica (74% das pastagens das propriedades).

“Nossa pastagem era toda formada com capim braquiarão e estava muito degradada, mas como temos um relevo acidentado, a reforma com mecanização deixava o solo mais vulnerável à erosão. Com o plantio direto a lanço, diversificamos as pastagens com variedades de forrageiras adequadas para os solos da região e isso resultou em pastos mais eficientes e aumentou a taxa de lotação das pastagens de 1,4 para 2,4 Unidades Animal (UA) por hectare. Hoje, gastamos apenas com a manutenção das áreas reformadas e temos a tranquilidade de contar com pastagens produtivas e duradouras, sem danos ambientais”, ressalta Medeiros.

Na propriedade de Francisco Ernandis, em Rio Branco, o plantio direto a lanço foi utilizado pela primeira vez em 2019, na reforma de 20 hectares de pastagem. A técnica já foi aplicada em 370 hectares e, este ano, serão reformados mais 60 hectares. Segundo o produtor, além do relevo acidentado, os solos da Fazenda Transacreana apresentam alto grau de encharcamento. Para solucionar o problema, investiu no plantio de gramíneas resistentes, recomendadas pela pesquisa.

“Utilizamos o capim-xaraés na formação inicial da pastagem e, depois, plantamos a grama-estrela-roxa e o capim-humidícola nas áreas que ficaram descobertas. Com uma dessecação eficiente, conseguimos diminuir a competição de plantas invasoras no estabelecimento da pastagem e reduzimos gastos com controle químico. Economizamos na reforma do pasto e o meio ambiente também se beneficia”, enfatiza o produtor, que tem como meta ampliar para 2 mil hectares a área reformada com plantio direto a lanço.

Protocolo para diferentes forrageiras

O plantio direto é uma técnica conservacionista bastante utilizada na agricultura brasileira, especialmente nos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), mas ainda era pouco adotada na renovação de pastagens. Para ampliar o seu uso no Acre, na última década, a Embrapa, em parceria com pecuaristas, desenvolveu também modalidades de plantio direto em linha e em covas. Devido às facilidades para adoção, vantagens proporcionadas e possibilidade de uso em terrenos acidentados, a semeadura a lanço tem sido a mais adotada no estado.

Para ajustar a técnica à realidade da região amazônica, entre outros aspectos, a pesquisa avaliou a dosagem adequada de herbicida para dessecação do capim, o número de pulverizações necessárias, intervalo entre as aplicações do produto e melhor época para realização do processo. “O protocolo validado para os capins xaraés e piatã pode ser utilizado com todas as forrageiras disponíveis no mercado, de acordo com as orientações técnicas para cada variedade, com exceção da Brachiaria humidicola, devido ao alto custo das sementes e baixo vigor das plantas, característica que dificulta o estabelecimento dessa gramínea na pastagem, por semeadura a lanço”, destaca Andrade. (Da Embrapa)

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