Criada em 04/10/2022 às 10h02 | Pesquisa

Cientistas conseguem reproduzir lambaris-do-rabo-amarelo em laboratório

Avanço amplia oportunidades para testes toxicológicos com embriões de uma espécie da família Characidae. Estudo tem como objetivo viabilizar ensaios laboratoriais com embriões de lambari utilizando metodologia semelhante ao do zebrafish.

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Reprodução assistida de lambaris é um avanço para testes toxicológicos que utilizam embriões de peixes. (Foto: Divulgação)

Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) obtiveram com sucesso a reprodução assistida em laboratório com luz natural, sem o uso de indução hormonal, do lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax altiparanae). A técnica foi adaptada da empregada com o zebrafish ou paulistinha (Danio rerio). Essa conquista é um avanço para testes toxicológicos que utilizam embriões de peixes para estabelecer os limites de substâncias químicas na água, por exemplo. O zebrafish é a espécie mais utilizada para esse tipo de estudo, porém, o lambari-de-rabo-amarelo apresenta potencial como modelo experimental nos ensaios laboratoriais com embriões e larvas de peixes. Esse lambari é muito utilizado como isca-viva e para o consumo humano.

Atualmente, testes toxicológicos com diferentes compostos são frequentemente realizados com embriões e adultos de zebrafish, comenta a pesquisadora da Embrapa Vera Castro. “Além de ajudar a determinar as concentrações máximas permissíveis nos corpos de água, esses estudos nos permitem comparar a toxicidade de diferentes compostos e estudar os fatores que alteram a toxicidade. O uso dos embriões do zebrafish nas pesquisas possui inúmeras vantagens como por exemplo, o seu rápido desenvolvimento, a grande quantidade de embriões produzida (média de 50 ovos/casal) e seu pequeno tamanho, que possibilita o uso de unidades experimentais com menor custo e redução de resíduos no laboratório. Castro explica que essas vantagens serão ampliadas com o uso dos embriões do lambari.

“Os embriões são usados porque, geralmente, os estágios iniciais de vida são os mais suscetíveis aos efeitos tóxicos de poluentes comparados aos peixes adultos”, detalha o também pesquisador Claudio Jonsson. Ele conta que os ensaios de toxicidade com embriões e larvas permitem a obtenção de dados mais adequados para a avaliação de risco ambiental. Segundo o cientista, existe uma carência de procedimentos de avaliação da toxicidade crônica com larvas de espécies que habitam o seu território de origem, chamadas autóctones, como é o caso desse lambari, relacionados ao registro de agroquímicos no Brasil. “Entretanto, o Manual de Testes para a Avaliação de Ecotoxicidade de Agentes Químicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), recomenda a utilização de peixes pertencentes à família Characidae na avaliação de toxicidade para esse registro. E o lambari pertence a esta família, sendo uma vantagem em relação ao uso do zebrafish.

Técnica do zebrafish

A equipe de pesquisa adequou metodologia usada para o peixe zebrafish e padronizou-a para os lambaris. peixes de interesse dos piscicultores por causa da sua rusticidade, de seu ciclo de vida rápido e alta produtividade em cultivo intensivo. “Para os experimentos, o domínio da técnica de manejo desse peixe foi importante para garantir uma reprodução natural no laboratório e obtenção dos ovos e embriões em quantidade e qualidade suficientes para os testes”, comemora a doutoranda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Patricia Dias que também participou dos estudos sob a orientação da pesquisadora Márcia Ishikawa.

“No experimento foram utilizados dez machos e dez fêmeas, proporção de um por um, enquanto com o zebrafish são usados dois machos para cada fêmea (2:1). Com peso médio de sete gramas, os animais foram distribuídos em um sistema com utilização da luz natural, com aquecedor, aeração constante e recirculação baixa de água, de acordo com as exigências da espécie. A manutenção da qualidade da água foi essencial para o sucesso na reprodução dos lambaris”, ressalta o pesquisador da Embrapa Julio Queiroz.

Como os lambaris possuem o hábito de colocar os ovos em macrófitas aquáticas flutuantes, conhecidas como aguapés, os pesquisadores colocaram folhas de bananeira na superfície da água para fazer a mesma função.

Após quatro horas de reconhecimento, os animais estavam realizando o ritual de acasalamento, com duração aproximada de uma hora. “Após 14 horas, os embriões viáveis foram selecionados com auxílio de uma lupa, observando as características como ausência de anomalias e malformações físicas. Também foram observadas as características de desenvolvimento fisiológico”, destaca Dias.

Ishikawa acredita que se trata de um importante avanço do conhecimento e que ajuda na continuidade de experimentos do projeto sobre uso de espécies de peixes não-alvos como bioindicadores, no âmbito do Projeto BRS Aqua, realizado em parceria entre Embrapa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). (Da Embrapa)

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