Criada em 25/10/2022 às 11h43 | Pesquisa

Artigo: "Tocantins: O grande exportador de alevinos de espécies nativa"

Segundo pesquisadora, o Tocantins ainda assume uma posição tímida na produção nacional de peixe, quinto lugar, mas também é conhecido que ainda tem grande potencial a ser explorado por essa cadeia em função de sua localização estratégica e disponibilidade de água disponível.

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O estado também é conhecido que ainda tem grande potencial a ser explorado por essa cadeia em função de sua localização estratégica e disponibilidade de água disponível. (Foto: Divulgação)

Por Luciana Shiotsuki
Pesquisadora Genética e Melhoramento Animal da Embrapa Pesca e Aquicultura
Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins - FAPT

O tambaqui (Colossoma macropomum) é a segunda espécie de peixe mais produzida no Brasil e a terceira espécie mais exportada. Ela é extremamente apreciada pelo mercado consumidor, sobretudo da região norte e centro-oeste do Brasil, apresentam carne de coloração clara e sabor suave e sua comercialização é tradicionalmente feita na forma de “peixe fresco eviscerado” com peso variando de 700g a 4,0kg e rendimento de carcaça em torno de 90%. Dentre as principais vantagens do tambaqui aos piscicultores destacam-se a facilidade de obtenção de juvenis, bom potencial de crescimento e alta rusticidade.

O crescimento da cadeia produtiva do tambaqui tem sido impulsionado, além da grande aceitação do mercado consumidor, pela redução nos estoques naturais de tambaqui e o grande apelo social que a espécie apresenta, em especial par região Norte do país. No estado do Tocantins, é a espécie mais produzida por mais de dez estruturas de produção de formas jovens espalhados no estado, sendo então reconhecido como um grande exportador e consumidor de alevinos e formas jovens produzidos em águas tocantinenses (Costa et al., 2020). Um pouco mais de 90% do pescado produzido é proveniente da produção local de alevinos, além de ser fonte de formas jovens dessa espécie para os estados: Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Pará (SEAGRO, 2019). O Tocantins ainda assume uma posição tímida na produção nacional de peixe, quinto lugar (Costa et al., 2020), mas também é conhecido que ainda tem grande potencial a ser explorado por essa cadeia em função de sua localização estratégica e disponibilidade de água disponível.

Há mais de 25 anos, o tambaqui tem sido criado em cativeiros em diferentes estados brasileiros, entretanto, nenhuma melhoria incremental é observada e replicada. Em função da falta de pacotes tecnológicos, como Programas de Melhoramento Genético, a formação de híbridos (estratégia de acasalamento que utiliza o cruzamento de espécies diferentes) tem sido muito explorada para aproveitamento de uma possível heterose pelo cruzamento entre espécies (Serafim et al., 2020). Alguns estudos demonstraram a superioridade do peixe puro sobre híbridos de cruzamentos com tambaqui (Costa et al., 2019; Reis-Neto et al., 2020). Enquanto há descrito trabalhos com caracterização de peso e características morfométricas superiores para animais híbridos comparados aos seus puros (Reis-Neto et al., 2012; Mourad et al., 2018).

Não há informações técnicas (quanto a desempenho zootécnico e aspectos reprodutivos) que subsidiem a promoção do tambaqui puro frente aos híbridos, nem quais os prejuízos causados por perdas quanto ao patrimônio genético existente na nossa fauna. Não há informações que reforcem ainda mais a potencialidade do estado do Tocantins como grande provedor desse material genético nativo, que historicamente já havia se destacado. Ações para caracterizar as espécies e suas potencialidades são necessárias para promoção da espécie nativa e ainda para o fortalecimento do Tocantins como fonte de material seguro para iniciar a produção (com a possibilidade de estabelecer Programas de melhoramento genético do tambaqui), a comercialização de alevinos de tambaqui para diferentes estados do país. Essas ações também contribuem para a segurança alimentar nacional, porque mesmo não sendo a espécie atualmente mais produzida no país, publicações recentes da FAO apontam a necessidade de diversificação de espécies da aquicultura para mitigar efeitos quanto às mudanças climáticas, surtos de doenças, flutuações do mercado e outras incertezas (Harvey et al., 2017; Cai et al., 2022).

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