Criada em 15/09/2021 às 11h23 | Agronegócio

Tabus e investimentos são temas postos na abertura de seminário de irradiação de alimentos

O seminário é promovido pela Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR), com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

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Mais de mil interessados se inscreveram no evento, que termina nesta quinta-feira (15) e é transmitido pela plataforma Enagro Virtual. (Foto: Divulgação)

Foi aberto na manhã desta terça-feira (14) o Seminário sobre Irradiação de Alimentos, uma tecnologia que permite ampliar a vida útil de produtos do agro com segurança, evitando o desperdício e permitindo a abertura de novos mercados para a exportação. A técnica já é utilizada comercialmente em mais de 60 países.

O seminário é promovido pela Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR), com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na mesa de abertura, o secretário executivo do Mapa, Marcos Montes Cordeiro, reforçou a necessidade de se quebrar tabus em relação à irradiação.

“A desmistificação deve ocorrer não só no Brasil, mas no mundo todo, e estamos trabalhando nesse sentido. O poder público poderá oferecer os instrumentos necessários à iniciativa privada, que já manifestou interesse no assunto”, disse ele.

Representando empresários, o diretor titular de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Ignacio Betancourt, afirmou esperar que o evento estimule o avanço da irradiação de alimentos no Brasil. “Estamos ficando para trás. Precisamos dessa importante ferramenta para diversificar nossa pauta de exportações, incluindo produtos de alto valor agregado”, explicou.

Também participaram a abertura o contra-almirante Carlos André Coronha Macedo, secretário de Coordenação de Sistemas do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da República; Josilto de Oliveira Aquino, presidente da SBPR; Edna Morais Oliveira, representando a Embrapa; Paulo Roberto Pertusi, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Anna Lucia Villavicencio, presidente do Seminário sobre Irradiação de Alimentos, que leva o título “Tecnologia e inovação na mesa dos brasileiros”.

Mais de mil interessados se inscreveram no evento, que termina nesta quinta-feira (15) e é transmitido pela plataforma Enagro Virtual. As palestras começam 8h30 e terminam 18h30. O dia começa com uma visita virtual aos irradiadores do Ipen, segue com uma mesa sobre experiências internacionais, investimentos em irradiadores que atendam aos interesses plurais do país, licenciamento e autorização de funcionamento das instalações e, ao final, a comunicação com os consumidores.

MESA 1: CIÊNCIAS NUCLEARES

Na primeira mesa de temas técnicos, apresentada pela manhã, foram realizadas quatro palestras técnicas sobre as ciências nucleares e suas aplicações. Radiações ionizantes, a proteção radiológica e suas aplicações industriais, a escolha das fontes e energias para a radiação de alimentos e a radioatividade relacionada aos alimentos foram debatidas.

Evelise Gomes Lara, da Amazul e SBPR, lembrou que o tema da irradiação sofre distorções ao ser apresentado à sociedade e defendeu uma comunicação assertiva, desprovida de academicismo. Ela diferenciou irradiação de contaminação, deu exemplos práticos e confirmou que, em média, alimentos irradiados duram três vezes mais.

Jaqueline Calábria, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), relatou a aplicação da irradiação na saúde, na indústria, no meio ambiente e na agricultura. “O processo é muito criterioso e bastante controlado. Os alimentos não ficam radioativos, assim como os pacientes submetidos à radiação não ficam radioativos. A aplicação no agro não tem capacidade de modificar a estrutura nuclear”, afirmou. Segundo ela, além de aumentar a vida útil, a irradiação permite a eliminação de pragas.

Outros palestrantes da primeira mesa foram Danila Carrijo Dias, da Win Brasil, e Alfredo Lopes Ferreira Filho, da CNEN e SBPR. Os convidados apresentaram conceitos técnicos que facilitaram a compreensão do processo de irradiação. A discussão foi moderada por Denise Levy (SBPR).

MESA 2: ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA

Wilson Calvo, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), moderou a Mesa 2, que tratou da tecnologia das radiações em benefício da alimentação e agricultura. O pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Murillo Freire, apresentou resultados de pesquisas da Embrapa Agroindústria de Alimentos sobre irradiação em produtos vegetais, como mangas, água de coco, suco de laranja, agrião e beterraba minimamente processados, entre outros.

“A irradiação é um método de conservação de alimentos que deve ser utilizado em conjunto com outras boas práticas agrícolas, sempre pensando em manter as características sensoriais dos produtos”, falou. Ele também abordou a barreira da resistência, por falta de informações, até mesmo entre revisores de projetos, o que impacta nas pesquisas envolvendo a tecnologia.
Anna Lucia Villavicencio, do Ipen/CNEN, disse que o consumidor desinformado sempre pensa nos riscos da irradiação, mas entende os benefícios quando recebe informações confiáveis. “A irradiação elimina parasitas e reduz o brotamento em batatas, cebola, alho, gengibre, chuchu e outros”, falou. Ela explicou como é feito o processo de irradiação em alimentos, os equipamentos usados e como devem ser as embalagens.

Marcella Teixeira, do Mapa, abordou a irradiação em produtos animais e trouxe provocações sobre a necessidade de ampliar a produção de alimentos em função do crescimento demográfico – estima-se que o planeta tenha 9 bilhões de habitantes em 2050. Segundo ela, o desafio brasileiro é comunicar à sociedade que a tecnologia pode ser usada em prol da sustentabilidade e da segurança alimentar.

O professor Valter Arthur, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP), abordou o controle de insetos pragas com o uso da radiação ionizante, classificou os insetos em úteis (como as abelhas) e pragas e argumentou que o processo químico de eliminação deixa resíduos, enquanto a irradiação, não. “Alimentos tratados com irradiação podem ser consumidos em seguida. O tratamento químico exige esperar o período de carência”, afirmou.

MESA 3: DEMANDA SANITÁRIA, ECONÔMICA E SOCIAL

A Mesa 3, mediada pela superintendente Federal de Agricultura de São Paulo, Andréa Moura, tratou da irradiação de alimentos como demanda social, econômica e sanitária. A primeira palestra foi da professora Bernadette Franco, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Ela começou explicando a diferença entre os conceitos de segurança alimentar (o acesso aos alimentos) e a segurança dos alimentos (envolvendo problemas que podem afetar o alimento em si).

Em seguida, a professora apresentou ferramentas de gestão da segurança dos alimentos, com foco em microrganismos, enfocando outros dois conceitos que às vezes se confundem: perigo e risco. Componentes da avaliação de riscos, por meio de método científico, foram explicados em detalhes pela palestrante, que abordou ainda a gestão e a comunicação de riscos.

Thereza Barros, cientista agrícola do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), explicou como a irradiação de alimentos pode ser utilizada como tratamento quarentenário para obter acesso ao mercado americano. “Falo da irradiação promovendo um comércio seguro”, disse ela. Ela explicou o processo de equivalência para que o Brasil possa exportar produtos irradiados para os Estados Unidos.

Em seguida, Thalita Lima, da Anvisa, falou dos aspectos sanitários da irradiação de alimentos. Ela explicou as normas que regem as instalações e os processos no país e trouxe cenários regulatórios internacionais. “Como agência reguladora, a Anvisa quer proteger a saúde sem se tornar um entrave”, concluiu.

A discussão foi encerrada com a participação de Tiago Rusin, do GSI da Presidência da República. Especialista em altos estudos de Defesa, ele abordou o trabalho do Comitê de desenvolvimento do programa nuclear brasileiro e suas articulações interinstitucionais. “A irradiação de alimentos foi trabalhada em um grupo de tralho, entre 2018 e 2020, que teve o objetivo de dinamizar a aplicação da tecnologia na agropecuária”, explicou. Tiago disse que a China utiliza a tecnologia desde 1984, com aproximadamente 130 radiadores multipropósito. Em 2020 o país irradiou 1 milhão de toneladas de alimentos. (Da Superintendência Federal de Agricultura de São Paulo)

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