Criada em 15/03/2023 às 14h29 | Agronegócio

Novo sistema de cultivo de erva-mate pode produzir até dez vezes mais que o tradicional

Cevad-estufa permite que sejam alocadas mais de 300 mil plantas de erva-mate em um hectare, enquanto no sistema de produção em campo são instaladas em torno de 2,2 mil plantas por hectare.

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O Cevad-estufa é voltado para a colheita de folhas jovens e não das maduras, tradicionalmente utilizadas na produção de chimarrão. (Foto: Manuela Bergamin)

Um novo sistema de cultivo de erva-mate, desenvolvido pela Embrapa Florestas (PR), permite até dez colheitas em 18 meses, ou seja, nove a mais do que o tradicionalmente utilizado na cultura, que é de apenas uma no mesmo período. Denominado de Cevad-estufa, apresenta também potencial para o desenvolvimento de novos produtos, principalmente diferentes tipos de chás a partir de folhas jovens das plantas, cultivadas em canaletas dentro de estufas, como pequenos arbustos. O sistema ainda vai passar por validação junto a produtores rurais, mas os resultados são promissores e podem contribuir para elevar a erva-mate a um patamar superior no mercado de chás e outros produtos de maior valor agregado, além de ampliar a sua comercialização no Brasil e no mundo.

Segundo o pesquisador Ivar Wendling, o Cevad-estufa é voltado para a colheita de folhas jovens e não das maduras, tradicionalmente utilizadas na produção de chimarrão, por exemplo. Assim como já se produz o chá-preto, chá-verde e chá branco a partir da Camellia sinensis, que utiliza folhas e processos distintos, será possível fazer isso também com as folhas da erva-mate (Ilex paraguariensis) e gerar chás com sabores diferenciados e maiores concentrações de cafeína e antioxidantes. Tudo isso ainda poderá ser potencializado com o uso de cultivares melhoradas de erva-mate, previstas para serem lançadas em até três anos pela Embrapa Florestas.

Custos de Implantação

A adoção do Cevad-estufa, que difere totalmente do cultivo a campo, demandará maiores custos para a implantação, já que envolve investimentos com as instalações da estufa, canaletões, aquisição de grande quantidade de mudas, assistência técnica e mão de obra especializada para o manejo, além de fertilizantes para uma solução nutritiva adequada. “Apesar do custo inicial, o sistema tem um grande potencial de produtividade, além da geração de matéria-prima diferenciada. Com essas vantagens, prevê-se que o investimento da implantação se pague com o tempo e gere um bom retorno econômico”, diz o pesquisador. “Além disso, apresenta um maior potencial de automação”, acrescenta.

Produção do sistema e caracterização química

O estudo de doutorado da aluna Jéssica Tomasi avaliou a produção de biomassa ao longo de um ano e a composição de bioativos, utilizando diferentes clones e doses de nitrogênio na solução nutritiva. Os resultados de produtividade demonstraram haver pouca oscilação ao longo das seis colheitas no ano, confirmando o potencial do sistema em termos de produção contínua e a variação entre genótipos. Também, segundo Tomasi, concluiu-se haver influência da sazonalidade no teor dos compostos bioativos, como a cafeína e diferentes tipos de antioxidantes.

Outro estudo sobre o Cevad-estufa, conduzido por Leandro Vieira, analisou aspectos relacionados ao enraizamento de miniestacas e à produção de massa verde de erva-mate. Foi avaliada também a composição química de 15 clones quanto aos teores de cafeína, teobromina, compostos fenólicos, açúcares e proteínas totais. Constatou-se que, de modo geral, genótipos de erva-mate apresentam características específicas quanto à composição química, produtividade, potencial de propagação, necessidade de utilização de reguladores vegetais, sazonalidade, intervalo entre colheitas, entre outros aspectos, o que demonstra a viabilidade das cultivares que estão em estudo no atendimento a nichos de mercado para produtos específicos.

“A produção de massa verde no novo sistema se mostrou diferenciada e com resultados inéditos, e que poderá vir a ser um sistema de cultivo visando à produção de matéria-prima para a indústria da erva-mate”, afirma Vieira. Além disso, dois genótipos se destacaram por conter altos teores de compostos fenólicos totais, proteínas, cafeína e alta atividade antioxidante. Outro genótipo apresentou alta produtividade de massa verde em cultivo Cevad-estufa, possibilitando a produtividade de 96 toneladas por hectare ao ano, segundo o estudo.

“Genótipos altamente produtivos e com características químicas diferenciadas podem resultar em produtos de grande interesse para a indústria da erva-mate. Assim, o conhecimento das características de cada genótipo quanto à exigência nutricional, forma de cultivo, poda, propagação, entre outros fatores, têm potencial para aumentar a eficiência na multiplicação e cultivo da erva-mate”, frisa Vieira.

Cevad-estufa pode resultar em cápsulas de antioxidantes, inéditas no mercado

Estudos apontaram a existência de cerca de 200 compostos químicos em folhas da erva-mate, muitos potencialmente bioativos. Com esse novo sistema de produção, além de chás especiais, é possível extrair compostos para produção de cosméticos, suplementos alimentares e produtos farmacêuticos para distintos fins.

Uma das opções são cápsulas ou sachês com pó de extrato de erva-mate, que apresentam importante efeito antioxidante. Outro produto de interesse são os estimulantes, devido à alta qualidade e concentração de cafeína nas folhas jovens de erva-mate, em materiais genéticos melhorados. “Até onde sabemos, ainda não estão disponíveis no mercado cápsulas diferenciadas e nem é realizada a extração de cafeína e antioxidantes de erva-mate em escala comercial, o que torna esses estudos muito promissores”, enfatiza Wendling. (Da Embrapa)

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