Criada em 31/05/2022 às 16h13 | Artigo

Como criar fortalezas para um rebanho precoce sexualmente?

Especialista em melhoramento genético de gado de corte e diretor técnico da Dstak Assessoria Pecuária, Rafael Mazão detalha resultado de trabalho experimental da Nelorejem, referência em melhoramento genético no estado do Tocantins.

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Um dos maiores desafios da pecuária de cria moderna é que as fêmeas deixem seus primeiros produtos desmamados antes de completarem 36 meses, e já gestantes novamente.

Muitos pensam que para atingir esta excelência, os resultados somente são vindos dos fatores ambientais provenientes de manejos otimizados de nutrição e sanidade, porém os fatores genéticos são os que mais influenciam na precocidade sexual, lógico aliados à boa nutrição, sanidade e manejo, pois “avião não decola sem combustível”.

Outro fator importante é a formação dos grupos contemporâneos vindos de estação de monta reduzida. Fêmeas da mesma safra nascidas com intervalo de até 90 dias, formam grupos de contemporâneos mais homogêneos quanto ao desempenho à desmama e ao ano (idade do início do desafio à reprodução precoce), com isso teremos mais animais que atingem melhor desenvolvimento e condição fisiológica para otimizarmos resultados ao final da estação reprodutiva.

Claramente, a seleção das matrizes que ficam e as que saem do rebanho, em conjunto com os reprodutores escolhidos para a utilização a cada safra reprodutiva, são fundamentais para a evolução genética do plantel.

Definir as estratégias de seleção e direcionar o planejamento genético buscando eficiência em todas as características econômicas num rebanho de cria é primordial. Além disso, visando a precocidade sexual algumas estratégias têm sido fundamentais pra melhores resultados.

A ciência está aí para nos ajudar, vinda junto aos programas de melhoramento genético com as DEP’S direcionadas a probabilidade de parto precoce e acabamento de carcaça, ambas com correlações que nos norteiam à este objetivo, junto as mensurações através de ultrassonografia de carcaça para acabamento de gordura subcutânea (em animais até final do sobreano), tem nos mostrado que são fortes aliadas para a seleção para precocidade sexual.

Em trabalho experimental realizado no selecionador NELOREJEM, referência em melhoramento genético no estado do Tocantins, com 304 fêmeas geração 2019, puras da raça Nelore vindas de nascimentos de estação reprodutiva de 91 dias e manejadas à pasto até a desmama, sendo suplementadas com silagem de capim Mombaça e proteico energético pós-desmama, foram analisados alguns fatores que poderiam estar correlacionados com a precocidade sexual, são eles:

 Mês do Nascimento;

 Peso à desmama;

 Classificação morfológica para Conformação, Precocidade e Musculosidade à desmama;

 Peso no dia do início do protocolo hormonal (D0);

 Escore corporal no dia do início do protocolo hormonal (D0);

 Peso ao sobreano;

 Altura de garupa ao sobreano;

 Área de olho de lombo por ultrassom ao sobreano;

 Espessura de gordura subcutânea por ultrassom ao sobreano;

 DEP Acabamento de Carcaça na ANCP;

 DEP ProbabiIidade de Parto Precoce na ANCP.

A análise estatística foi realizada considerando o cada animal como uma unidade experimental. O efeito fixo considerado foi o diagnóstico de gestação, sendo realizada a análise de variância (ANOVA) para as características avaliadas. As medias foram testadas pelo teste de Tukey. O nível de significância adotado foi de 5% (p=0,05).

Podemos analisar na tabela 01 abaixo, a quantidade de animais avaliados para cada categoria (N), onde o valor é considerado para as precocinhas vazias e prenhas. O valor M é a média feita para cada diagnóstico de gestação final, vazia x prenha. No valor significativo (p) mostra a diferença estatística significativa de acordo com os resultados rodados, considerando o resultado positivo para a característica de precocidade quando o valor de p for menor que 0,05 (p<0,05).

Ao final deste experimento, resultados apontaram que o efeito genético na seleção para precocidade sexual é fortemente vindo de duas premissas fundamentais.

 Mês de Nascimento = fêmeas nascidas no primeiro terço da safra, agosto até 15 de setembro, obtiveram os melhores resultados na gestação precoce.

 Acabamento de carcaça mensurado por ultrassonografia, nos guia que fêmeas no início da puberdade com melhor deposição de gordura subcutânea são mais precoces.

 DEP ACAB com resultado muito próximo ao significativo, também nos norteia para este objetivo de seleção.

As demais características avaliadas neste estudo não sinalizaram resultados significativos, o que nos faz refletir que o rebanho é muito homogêneo pra tais características, não refletindo correlações entre elas e gestação precoce das fêmeas avaliadas.

Uma ótima oportunidade para reflexão vinda desta pesquisa! Rebanhos com estação reprodutiva curta, grupos de contemporâneos homogêneos, bom manejo nutricional do desmame à puberdade, juntamente com manejo sanitário e reprodutivo otimizado, evidenciam ser o “dever de casa bem realizado”! Ou seja, para ganharmos na eficiência da precocidade sexual ao longo das gerações, além do “arroz com feijão bem-feito”, temos que selecionar o máximo das matrizes para parirem “no cedo” e que tenham acabamento de gordura suficiente para expressarem precocidade sexual e reservas futuras no pós-parto.

Quanto a morfologia, alguns estudos apontam que fêmeas com conformação mediana, mais precoces e com mais musculosidade são mais eficientes para gestação precoce, esse perfil animal deve ser objetivado sempre. E lógico, utilizando dos programas de melhoramento genético como guia para a seleção.

O mais importante é pensar que, mesmo que hoje seu sistema de produção não esteja preparado para trabalhar com esta categoria, se você for selecionando sempre para estas características, quando quiser iniciar o desafio de precocidade sexual nas fêmeas jovens a genética já estará integrada ao rebanho e ficará muito mais fácil ter bons resultados!

* Rafael Mazão é especialista em melhoramento genético em gado de corte e diretor técnico da Dstak  Assessoria Pecuária.

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