Criada em 20/08/2021 às 13h01 | Aquicultura

Óleo essencial de pimenta-de-macaco tem potencial para tratar doenças de peixes

O óleo essencial da pimenta-de-macaco mostrou-se eficiente para o controle de endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes.

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O óleo essencial da pimenta-de-macaco mostrou-se eficiente para o controle de endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes. (Foto: Francisco Celio)

O óleo essencial da pimenta-de-macaco (Piper aduncum), planta nativa da Amazônia, apresentou mais de 76% de eficácia no controle de parasitas monogenéticos do peixe pirarucu (Arapaima gigas). O resultado foi observado em uma pesquisa que avaliou esse óleo a fim de substituir medicamentos veterinários. Os pesquisadores também determinaram parâmetros seguros para que o seu uso não comprometa outros organismos aquáticos. Essa avaliação é importante caso os efluentes da aquicultura atinjam os corpos d'água nas áreas vizinhas e contenham traços do produto. O trabalho foi desenvolvido por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) no âmbito do projeto BRS Aqua.

O óleo essencial de Piper aduncum mostrou ser eficiente e seguro para o controle de Hysterothylacium sp., um endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes, incluindo o pirarucu, conforme estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental.

Aplicações

“Dependendo do objetivo, as aplicações são feitas por meio de banhos – para avaliação da atividade anestésica e no controle de alguns parasitos – ou via oral, na dieta dos peixes para avaliação imunoestimulante e em desafios com bactérias”, explica a pesquisadora da Embrapa Edsandra Chagas.

“Nossa equipe tem tido boas respostas quanto à atividade anestésica, atividade antibacteriana in vitro e como antiparasitário no controle de endo e ectoparasitos, como monogenea e acantocéfalos”, conta a pesquisadora ao revelar que a equipe realiza trabalhos também com outros óleos essenciais. Um estudo publicado pela equipe no Journal of Essencial Oil Research traz resultados de experimentos com esses óleos em tambaquis.

A cientista relata que os resultados dos estudos foram promissores, embora sejam relacionados apenas à escala laboratorial. Para que seja adotado na piscicultura, ela informa que serão necessários estudos de validação no campo, que ainda não estão previstos. 

A pesquisadora da Unicamp Patrícia Miura conta que a motivação do estudo surgiu da carência de informações sobre o comportamento desse óleo essencial contra organismos aquáticos não alvo ou seja, os não visados. Por isso, o grupo de pesquisadores decidiu realizar avaliações ecotoxicológicas para determinar parâmetros para o seu uso seguro em diferentes espécies de organismos aquáticos. “Portanto, esse estudo foi importante para assegurar que o seu uso não comprometa organismos aquáticos não alvo”, explica o pesquisador da Unicamp Félix Reyes.

Para Miura, o trabalho abre caminho para o uso de produtos naturais para controlar bactérias e larvas de nematoides na piscicultura. “Esses organismos causam significativas perdas na aquicultura, e seu controle poderá ser feito também com outros óleos essenciais que também apresentaram eficácia comprovada nos testes”, acredita a cientista.

Útil para tratar várias doenças 

O óleo essencial de P. aduncum tem sido avaliado para uma ampla gama de aplicações na piscicultura: como anestésico, imunoestimulante, antibacteriano e antiparasitário. “Além disso, esse óleo é descrito como tendo atividades inseticidas, moluscicidas e citotóxicas, possivelmente associadas à sua composição química. É rico em dilapiol, substância à qual é atribuída parte dos efeitos anti-infecciosos e antiparasitários”, explica o pesquisador da Embrapa Claudio Jonsson.

Avaliação de risco ecológico

Inicialmente, para a avaliação de risco ecológico do óleo essencial de P. aduncum, foi necessária a caracterização química a fim de conhecer o teor do principal componente, o dilapiol. Para isso foi realizada a sua quantificação por meio da técnica cromatografia gasosa, que identificou o teor de 75,5% da substância no óleo. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Sonia Queiroz, essa análise é importante, uma vez que a composição do óleo pode mudar em função da região, clima, solo, época de colheita, entre outros fatores relacionados ao local de onde a planta se origina.

“Após a composição química da amostra ter sido analisada, a sua concentração de risco foi determinada utilizando cinco organismos não alvo: uma microalga (Raphidocelis subcapitata), sementes de alface (Lactuca sativa L.), um nematoide (Panagrolaimus sp.) e dois microcrustáceos (Daphnia magna e Artemia salina)”, relata Jonsson. 

Um parâmetro útil nesse contexto é a concentração de risco, que protege 95% das espécies em uma comunidade e pode ser prevista a partir de um número reduzido de dados toxicológicos. Com base nesse cálculo, a concentração mais segura indicada para utilização do óleo na produção aquícola, sem comprometer a biota, foi de 0,09 mg por litro. 

Conforme explica o pesquisador, para determinar essa concentração, a distribuição de sensibilidade das espécies é realizada por um programa computacional, estimada com dados de toxicidade de pelo menos cinco espécies pertencentes a no mínimo quatro grupos taxonômicos. (Da Embrapa)

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