Criada em 30/11/2021 às 08h38 | Gado

Ferramenta genômica seleciona bovinos leiteiros adaptáveis às diferenças climáticas do Brasil

A ferramenta genômica Clarifide Girolando permite o desenvolvimento de rebanhos leiteiros adaptados a estresses climáticos das diferentes regiões brasileiras. Paralelamente, agrega valor à raça brasileira Girolando.

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A genômica oferece ao produtor a possibilidade de estabelecer um sistema de criação economicamente viável e cada vez mais eficiente. (Foto: Embrapa)

A Embrapa Gado de Leite (MG) está utilizando uma ferramenta genômica denominada Clarifide Girolando (veja quadro abaixo) para identificar touros capazes de produzir progênies (filhas) de acordo com a tolerância ao estresse térmico. “Pretendemos com isso enfrentar um grande problema da pecuária leiteira nacional, que é a perda de produção acarretada pelas condições locais de alta temperatura e umidade”, diz o pesquisador da Unidade Marcos Vinícius Barbosa da Silva, que coordena a pesquisa.

“O estresse térmico interfere diretamente na produção de leite e quanto mais produtiva for a vaca, maior será essa interferência”, afirma, Renata Negri, doutora em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que integra a equipe de pesquisa. Ela prossegue: “Acredita-se que haja diferenças nas respostas fisiológicas associadas à produção de leite nos diferentes grupos genéticos que constituem a raça Girolando, sendo necessário identificar e classificar os animais conforme sua tolerância ao calor”.

A pesquisa conta ainda com a participação das doutoras em Genética e Melhoramento Darlene Daltro (UFRGS) e Sabrina Kluska da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Jaboticabal). Daltro informa que os trabalhos tiveram início em maio deste ano, quando foram selecionados 300 rebanhos distribuídos em diversos pontos do País. A produção dos indivíduos desses rebanhos foi acompanhada e comparada entre si, tendo como principal variável as condições climáticas locais fornecidas pelas estações meteorológicas mais próximas das fazendas. Modelos matemáticos demonstraram que algumas vacas da raça Girolando podem deixar de produzir mais de mil litros de leite, considerando 305 dias de lactação, devido ao estresse térmico. Em seguida, por meio do Clarifide, identificou-se o genoma dos animais pesquisados para determinar os mais adaptáveis a determinada região.

Genômica agrega valor à raça brasileira Girolando

Segundo Kluska, com a pesquisa, as centrais de inseminação artificial poderão informar, além dos PTAs (Capacidade Prevista de Transmissão das características genéticas, traduzido do inglês: Predict Transmission Ability), a progênie mais adequada às diversas condições climáticas do País. De acordo com ela, essa é uma informação estratégica para o produtor. Além da queda na produção de leite, as fazendas têm prejuízos com o descarte de animais, de alto valor financeiro, intolerantes ao estresse térmico, mas cuja genética poderia ser muito eficiente em outros locais.

“A identificação entres grupos genéticos e dentro de cada grupo permitirão o direcionamento de uso, conforme as condições locais de cada região brasileira, permitindo ao criador a escolha e utilização dos animais conforme suas condições reais de manejo e de ambiente, visando estabelecer um sistema de criação economicamente viável e cada vez mais eficiente”, destaca a doutora da Unesp-Jabuticabal.
Silva diz que a pesquisa irá contribuir muito para a Girolando, uma raça sintética desenvolvida no Brasil, com o cruzamento das raças Holandês X Gir Leiteiro, unindo o alto potencial produtivo da primeira com a rusticidade da segunda. “O Brasil é um país com extensão continental, com grandes variações climáticas e é inviável termos um padrão genético para todo o território nacional. O que o conhecimento genômico está nos permitindo é adequar a raça segundo as características específicas de calor e umidade”, resume Silva.

O pesquisador conclui destacando que esse trabalho é uma parceria da Embrapa com a Associação Brasileira de Criadores da Raça Girolando (Girolando). “Constituímos um pool de recursos para desvendar características intrínsecas da natureza dos animais da raça, proporcionando melhor compreensão dos mecanismos de defesa corporal e auxiliando na tomada de decisões e direcionamento dos programas de melhoramento genético, conforme os objetivos de seleção, exigências do mercado e atendendo aos requisitos de bem-estar animal”, completa Silva.

Genômica e predição: seleção genética antes do nascimento

A avaliação genômica abre grandes possibilidades para o melhoramento dos rebanhos. Ela permite, por exemplo, que o animal seja selecionado antes mesmo de nascer. É possível retirar uma pequena amostra (dez células) de um embrião após sete dias da fecundação in vitro (fertilização realizada no laboratório) e, por meio dessas poucas células, analisar todo o seu genoma. Caso o embrião possua as características desejáveis, ele é transferido para a vaca (barriga de aluguel) que irá proceder a gestação. Do contrário, poderá ser descartado. Além de economizar tempo, esse procedimento otimiza as barrigas de aluguel, pois a vaca passará a gerar somente os embriões que foram selecionados como os melhores. (Da Embrapa)

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