Criada em 08/06/2022 às 10h01 | Agronegócio

Jacyr Costa Filho: “Agregação maior de valor na indústria de alimentos será possível com reforma tributária”

“Agregar valor gera mais empregos e qualidade no País. Para o agricultor, é uma grande opção, que também fortalece o mercado interno de sua produção”, afirmou Jacyr da Costa Filho, presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/FIESP).

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Milho: produção mundial do grão deve ter redução na temporada 2022/23. (Foto: Divulgação)

A redução da produção mundial de grãos estimada para 2022/23, principalmente de milho, trigo e arroz, está preocupando organismos como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Fatores como pandemia, guerra do Leste Europeu e aumento dos juros tem contribuído para o cenário de crise.

Recente estimativa do Conselho Internacional de Grãos (IGC) indica que produção global em 2022/23 deve ficar em torno de 2.25 bilhões de toneladas. Diante disso, alguns governos lançam mão de ações para limitar as exportações e garantir o abastecimento do mercado interno.

No caso do Brasil, analistas do setor apostam no aumento da produção, de forma sustentável, para atender ao mercado externo, mas reforçam que é preciso ter maior agregação de valor.

“Agregar valor gera mais empregos e qualidade no País. Para o agricultor, é uma grande opção, que também fortalece o mercado interno de sua produção”, afirmou Jacyr da Costa Filho, presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/FIESP) e membro titular da Academia Nacional de Agricultura da SNA.

Ao participar de uma videoconferência sobre oferta mundial de alimentos, o executivo afirmou que é fundamental fortalecer a cadeia de uma indústria alimentícia mais rigorosa que permita maior agregação de valor. Mas, segundo ele, “o primeiro passo para que isso aconteça é implementar uma reforma tributária”.

Para Jacyr, “um dos impedimentos nesse sentido é o acúmulo de crédito dessas indústrias quando elas querem processar mais produtos agrícolas para exportação”.

Presente ao debate, o economista Antônio da Luz reforçou que “agregar mais valor e ser mais competitivo em vários eixos da cadeia será difícil se não fizermos reformas estruturais para que os industriais tenham possibilidade de competir lá fora”.

Barreiras

Outro fator que influencia o contexto do valor agregado são as barreiras tarifárias e não tarifárias que os países aplicam para proteger seus interesses, seus empresários e produtores.

“Na escalada tarifária, os países que querem proteger seus industriais colocam tarifas baixas ou nulas para a matéria prima importada, transformam esses produtos em industrializados e praticam tarifas muito altas para os países (que exportam a matéria prima). Portanto, não conseguem ingressar naquele mercado porque o produto com valor agregado tem uma tarifa muito alta”, explicou o ex-ministro da Agricultura e titular da Academia Nacional de Agricultura, Roberto Rodrigues, ao participar da videoconferência.

Com relação ao Brasil, ele acredita que a solução para o problema é uma ação do governo no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). “É um processo lento que depende de negociação diplomática por parte do governo e ação privada para a substituição gradativa de matérias primas sem tarifas por produtos com valor agregado mais alto”, disse o ex-ministro.

Proximidade

Já o presidente da Cosag acrescentou que, “para fazer com que o produto primário seja industrializado no Brasil, além do esforço diplomático, é muito importante que a iniciativa privada comece a sair do País para encontrar outras oportunidades, seja frequentando feiras no exterior para divulgar produtos ou traçando estratégias, a fim de promover uma aproximação maior com o consumidor”.

O executivo lembrou que nas décadas de 90 e 2000, a Associação Brasileira de Cafés Especiais implementou iniciativas para abrir mercados e ter uma proximidade maior com os consumidores, em feiras e outros eventos, e acrescentou que atualmente o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) vem fazendo esse trabalho.

Investimentos

“A iniciativa privada precisa estar mais próxima (dos mercados)”, disse Jacyr. “Precisamos ter no agronegócio a mentalidade não só de produção, mas também mercadológica. E isso já está acontecendo em vários setores”, observou o executivo, citando como exemplo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que recentemente abriu um escritório em Singapura para divulgar as fibras brasileiras.

O executivo lembrou ainda que a Amaggi investiu numa empresa de nutrição de salmões na Noruega e que está cada vez mais próxima do mercado. “Com certeza vai encontrar oportunidades de agregação de valor”.

Jacyr também comentou que o e-commerce mudou muito o cenário do varejo, porque fez com que a indústria ficasse mais próxima de seu consumidor. “Alguns setores estão querendo cada vez mais essa proximidade, como as indústrias do ramo têxtil que abrem lojas para escoar sua produção e as cooperativas de comercialização que atendem mercados locais”, disse.

Momento oportuno

No âmbito geral, avaliou Roberto Rodrigues, “o governo tem clareza de que há um momento oportuno para o Brasil mostrar que é capaz de alimentar o mundo. No entanto, devemos ter um Plano Safra que considere os mecanismos para garantir esse espaço”.

Sendo assim, disse ele, “é preciso que haja crédito rural e seguro abundantes, garantia de preço para o produtor rural na próxima safra e acordos comerciais que assegurem mercados de longo prazo”. (Da SNA)

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