Criada em 09/04/2019 às 16h06 | Agricultura

Matopiba: Estudo feito pela Embrapa mostra alta incidência de nematoides nas áreas produtoras de algodão na Bahia

O estudo realizado pela Embrapa Algodão e parceiros, nas duas safras anteriores, mapeou a ocorrência de nematoides em 250 mil hectares de áreas produtoras de algodão no Oeste Baiano. Ações de manejo como rotação do algodão com soja resistente ao verme foram recomendadas.

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Técnicos coletam nematoides na lavoura de algodão. (Foto Fabiano Perina / Embrapa)

Edna Santos
DE CAMPINA GRANDE (PB)

Um estudo realizado nas duas últimas safras mapeou a ocorrência de nematoides em 250 mil hectares de áreas produtoras de algodão do Oeste Baiano, onde se concentra a maior área de produção da pluma no estado. O trabalho foi feito pela Embrapa Algodão (PB) em parceria com a Fundação Bahia e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), com financiamento do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). Pesquisadores recomendam ações de manejo como rotação do algodão com soja resistente ao verme, emprego de plantas de cobertura e monitoramento constante do solo entre as medidas para se combater o problema (veja quadro no fim do texto).

O verme que parasita as raízes de diversas culturas é considerado um dos principais problemas fitossanitários do algodoeiro na região do Cerrado, capaz de comprometer a produtividade da cultura. Foram realizadas amostragens em 96 fazendas com cultivos de algodão em 11 municípios baianos durante as safras 2016/2017 e 2017/2018, contabilizando um total de 835 talhões amostrados.

A pesquisa investigou a ocorrência das espécies com maior importância econômica no algodoeiro: o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita), o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Fitopatologista da Embrapa Algodão Fabiano Perina fala sobre o mapeamento de nematoides no oeste da Bahia realizado pela Embrapa, em parceria com Fundação Bahia e Abapa.

O nematoide das lesões radiculares foi encontrado com maior incidência e distribuição espacial, diagnosticado em 85% das amostras, seguido do nematoide-das-galhas, presente em 37% das amostras, e do nematoide reniforme, que apresentou incidência de 14%.

Em 55% dos talhões amostrados foi diagnosticada a presença de infecções múltiplas, ou seja, presença de mais de uma espécie de nematoide associado ao algodoeiro. Predominou a ocorrência de infeções ocasionadas por nematoide-das-galhas associado ao nematoide-das-lesões radiculares (31%), seguida por nematoide-das-lesões radiculares com nematoide reniforme (13%). O nematoide-das-galhas com nematoide reniforme ocorreu em 6% das áreas e a associação das três espécies ocorreu em 5% dos talhões amostrados.

“Nos 250 mil hectares de área percorrida durante as duas safras, em apenas 8% dos talhões não foi detectada a presença de pelo menos uma das três espécies de nematoides associadas à cultura do algodoeiro”, ressalta o fitopatologista da Embrapa Algodão Fabiano Perina, que coordenou a pesquisa.

Nematoide-das-galhas prejudica mais a produtividade

Perina relata que, entre as espécies diagnosticadas, o nematoide-das-galhas é a espécie que apresenta maior relação com perdas para o cultivo do algodoeiro, seguido pelo nematoide reniforme. Para chegar a essa conclusão, ele comparou a densidade populacional de nematoides nas áreas com histórico de alta produtividade e de baixa produtividade. “Verificamos que houve correlação entre a baixa produtividade e a alta densidade populacional do nematoide-das-galhas e do nematoide reniforme, o que evidencia a capacidade dessas espécies de nematoides em causar danos ao algodoeiro na região Oeste da Bahia”, afirma.

Apesar de estar presente na maioria das áreas de cultivo, o nematoide-das-lesões radiculares não aparenta ter relação direta com perdas na produtividade do algodoeiro no Oeste Baiano, conforme o mapeamento. “Não houve diferenças expressivas entre a densidade populacional média de áreas com histórico de alta e baixa produtividade”, informa. “Entretanto, deve se ter cautela com o aumento populacional dessa espécie, dada sua predominância nas áreas de produção, sua relevância para outras culturas praticadas dentro do sistema de produção e até mesmo para o algodoeiro quando associada a outras espécies de nematoides e patógenos de solo”, acrescenta.

Melhores técnicas de manejo para enfrentar o problema

Em paralelo ao mapeamento de nematoides do algodoeiro, foram avaliadas técnicas de manejo do parasita. Três unidades demonstrativas foram instaladas nos municípios baianos de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério, nas quais foram empregadas técnicas como controle químico, controle biológico, rotação de culturas com cultivar de soja resistente a nematoides e aplicação de matéria orgânica.

“Com base nos resultados obtidos nas unidades demonstrativas, concluímos que a rotação de culturas com utilização de soja resistente a nematoide-das-galhas, associada à prática cultural de aplicação de diferentes fontes de matéria orgânica (esterco bovino, casquinha de algodão e cama de frango), são técnicas promissoras para o manejo do nematoide-das-galhas. A utilização de plantas de cobertura como a Crotálaria spectabilis, Urochloa brizantha cultivar BRS Paiaguás, Crotálaria breviflora e milheto ADRG 9050, são boas opções para auxiliar no manejo integrado visando à redução do nematoide-das-galhas e do nematoide-das-lesões radiculares para o plantio do algodoeiro”, atesta.

Recomendações:

1 – Faça um diagnóstico laboratorial, por meio da análise nematológica, para identificação correta da espécie de nematoide a fim de ter êxito no manejo;

2 – evite a sucessão de culturas hospedeiras de nematoides. Exemplo: algodão, soja, milho e feijão são hospedeiras das mesmas espécies de nematoides;

3 – escolha culturas resistentes ou que não favoreçam à multiplicação de nematoides para quebrar o ciclo da praga. Exemplos: soja resistente, Crotalária spectabilis, mamona, amendoim e braquiária;

4 – cuidado com a limpeza de máquinas e implementos agrícolas. É preciso retirar a terra que fica aderida aos pneus e partes ativas dos implementos. O ideal é começar os trabalhos pelas áreas que não estão contaminadas;

5 – faça a amostragem da lavoura periodicamente. A cada safra, colete amostras de solo e de raízes e envie para análise em laboratório para acompanhar a evolução do problema e tomar as medidas necessárias. (Da Embrapa Algodão)

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