Criada em 10/09/2020 às 15h27 | Meio Ambiente

Estratégias de alimentação reduzem emissão de gases em ovinos do Semiárido

No experimento, a dieta fornecida aos animais teve composição com alimentos volumosos (feno de Tifton) e concentrados (milho, farelo e óleo de soja), com variações em diferentes proporções.

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Em ensaio experimental com 64 fêmeas da raça Santa Inês, houve redução em até 57% da emissão de metano. (Foto: Embrapa)

Estudo publicado pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) aponta que estratégias de nutrição para raças de ovinos localmente adaptadas ao Semiárido podem reduzir a emissão de gases de efeito estufa por esses animais. Em ensaio experimental com 64 fêmeas da raça Santa Inês em período de crescimento, houve redução em até 57% da emissão de metano (um dos principais gases causadores de efeito estufa), quando se diminuiu a proporção de alimento volumoso na dieta. Com dieta semelhante, a redução da emissão em fêmeas em crescimento da raça Somalis Brasileira chegou a 30%.

No experimento, a dieta fornecida aos animais teve composição com alimentos volumosos (feno de Tifton) e concentrados (milho, farelo e óleo de soja), com variações em diferentes proporções. A melhor resposta em termos de mitigação de gases aconteceu com proporção de 20% de volumoso para 80% de concentrado. Esse resultado indica que a utilização de dietas com maior produção de ingredientes concentrados em nutrientes solúveis (grãos, tortas, farelos, óleos vegetais) pode representar importante alternativa mitigadora de gases de efeito estufa, como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), para ovinos de grupos genéticos localmente adaptados ao Semiárido brasileiro – desde que os animais passem por período de adaptação, necessário às chamadas Dietas de Alto Concentrado

A observação demonstrou a possibilidade de que variáveis como a relação de volumoso e concentrado na dieta, a qualidade da forragem e a espécie forrageira consumida podem influenciar a produção de metano entérico (produzido pelo processo digestivo e emitido por flatulência ou arroto) por parte dos animais. Um outro aspecto é a otimização do uso dos ingredientes nessas dietas. Pela pesquisa desenvolvida, foi possível reduzir em 15% os teores de nutrientes proteicos e energéticos nas formulações dietéticas em relação aos valores normalmente utilizados nas formulações no Brasil para ovinos em terminação. Isso representa redução de custos quando a estratégia é utilizar dietas de alto concentrado. Esses fatores têm estimulado os estudos que avaliam a composição das dietas e o manejo alimentar com plantas forrageiras que minimizem a produção desses gases.

Relevância para a produção animal

Essas estratégias de mitigação dos gases por meio da nutrição ganham relevância para a produção animal: como a geração de metano integra a digestão das espécies ruminantes, é possível manipular a sua produção por meio da qualidade dos ingredientes dietéticos fornecidos a esses animais. O aumento na proporção de alimento concentrado verificado no estudo, por exemplo, estimula bactérias do processo ruminal que favorecem menor emissão desse gás. Outra vantagem é que com a otimização de nutrientes, há redução do período de confinamento e terminação (engorda para abate) desses animais.

“O metano é um produto oriundo da fermentação ruminal. Quando é ofertada uma dieta com maior proporção de forragem, ocorre maior produção desse gás. Ao reduzirmos a proporção de volumoso e aumentarmos a proporção de alimentos concentrados de rápida fermentação, a emissão de metano por animal é menor, consequentemente, por ciclo produtivo. Outra vantagem é que o animal pode ser terminado mais rapidamente e com isso aumenta o giro dentro da propriedade”, ressalta o zootecnista Clésio Costa, que conduziu o experimento na Embrapa, como atividade de seu curso de doutorado em Zootecnia na Universidade Federal do Ceará (UFC), sendo coorientado pelo pesquisador Marcos Cláudio Rogério, da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Eficiência do processo digestivo

De acordo com Marcos Cláudio, observar essa relação em animais em fase de crescimento foi interessante, por ser categoria com exigência elevada de nutrientes. Além disso, foi possível obter informações referentes à eficiência do processo digestivo: a emissão de metano representa perda de energia bruta do alimento ingerido (que pode variar entre 6% e 12%) e pior desempenho do animal – condição verificável em termos de indicadores produtivos, como ganho de peso, produção de carne, entre outros. 

“À medida que melhoramos a eficiência de uso dos nutrientes, especialmente os nutrientes energéticos, induzimos a uma redução das emissões de gases, porque a gente melhora os processos metabólicos, especialmente aqueles que levam à produção de metano. Ao mesmo tempo, quando fazemos a redução da emissão de gases de efeito estufa estamos contribuindo também com a sustentabilidade ambiental dos sistemas de produção”, destaca Marcos Cláudio. 

Recursos da Caatinga para mitigação

Além das indicações sobre composição da dieta fornecida em condições de terminação sob confinamento, a publicação também aponta outros fatores que podem contribuir para a mitigação de gases na realidade do Semiárido brasileiro: as técnicas de manejo para enriquecimento da Caatinga (introdução de espécies forrageiras para aumento da produção e qualidade da forragem) e o uso de recursos alimentares locais que possuem taninos em sua composição. 

Em um primeiro estudo, que avaliou modelos de produção com ovinos na Caatinga, a técnica do gás traçador revelou menor produção de gás metano no período chuvoso do ano, quando foi feito um processo de enriquecimento da área de pastejo. Isso acontece porque, com o enriquecimento, é possível ter uma forragem de melhor qualidade, facilitando a digestibilidade e um menor tempo de permanência do alimento no rúmen dos animais. 

A técnica do gás traçador baseia-se na introdução de uma cápsula no rúmen - estômago do animal - com uma taxa de liberação conhecida, misturando-se aos gases da fermentação ruminal e permitindo identificar e quantificar o metano produzido pelo animal. 

Quando se observou o comportamento dos animais em período seco, constatou-se que a alimentação em um pasto de menor qualidade, com maior percentual de lignina (componente da parede celular de vegetais que limita a digestibilidade) nas plantas, prejudica a digestão, favorecendo a retenção de alimento no rúmen e a taxa de fermentação, assim como uma maior produção de metano.

Um outro estudo citado na publicação mostrou bons resultados no uso da mucuna preta e de folhas de mufumbo para menor produção entérica de metano, quando comparados com espécies vegetais semelhantes. Em comum, a presença de taninos em sua composição, indicando efeito positivo para a mitigação. Uma dieta com introdução das folhas do mufumbo, por exemplo, reduziu em 50% as populações de bactérias responsáveis pela emissão de metano no sistema digestivo dos animais, quando comparadas com uma dieta que teve a mesma formulação, mas sem a presença do mufumbo.

De acordo com Marcos Cláudio Rogério, os taninos têm relação com esse potencial de redução do metano pelos animais. “Em um limite de até 4% da matéria seca, esses taninos podem ser importantes para reduzir as populações de bactérias que produzem metano”, explica ele. O pesquisador destaca, também, que a Embrapa Caprinos e Ovinos conduz, atualmente, pesquisa sobre avaliação de taninos condensados na suplementação de animais, para avaliar efeitos dessa dieta para a eficiência alimentar e a mitigação de gases, com resultados previstos para 2021. (Da Embrapa)



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