Criada em 08/06/2018 às 15h48 | Piscicultura

No Brasil, pesquisador usa tilápia como barriga de aluguel para pirarucu; tecnologia de ponta busca preservar espécies

Autoridade mundial na área de transplante de células germinativas em peixe, Goro Yoshizaki enfatizou a importância de sua técnica para a preservação de espécies em perigo de extinção. No Brasil, Yoshizaki realiza estudos usando a tilápia como barriga de aluguel para o pirarucu.

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Pesquisador japonês Goro Yoshizaki foi o conferencista na abertura do Simpósio Internacional sobre Fisiologia da Reprodução de Peixes. (Foto Cimone Barros/Inpa)

Síglia Souza
DE MANAUS (AM)

O pesquisador japonês Goro Yoshizaki foi o conferencista na abertura do 11º Simpósio Internacional sobre Fisiologia Reprodutiva de Peixes (ISRPF 2018) que acontece até esta quinta-feira, 8 de junho, no Tropical Hotel em Manaus (AM). Autoridade mundial na área de transplante de células germinativas em peixe, Yoshizaki enfatizou a importância de sua técnica para a preservação de espécies em perigo de extinção ao redor do mundo. A técnica também é aplicada para superar problemas com a biologia reprodutiva de espécies de importância econômica.

Ele utiliza a técnica de criopreservação (congelamento de células germinativas de peixes em nitrogênio líquido). A tecnologia apresentada pelo cientista consiste em congelar as células germinativas  para depois transplantar esses gametas funcionais em outras espécies de peixes que atuam como “barriga de aluguel”. Com a técnica, Yoshizaki já conseguiu, por exemplo, que trutas gerassem alevinos de salmão e vice-versa. “O salmão do Pacífico morre logo após seu primeiro ciclo reprodutivo. Já a Truta não. Então, podemos fazer as trutas gerarem salmão ano após ano”, explicou o pesquisador.

No Brasil, Yoshizaki mantém colaboração com laboratório na UFMG, onde estão sendo feitos estudos usando a tilápia como modelo experimental como peixe-receptor (barriga de aluguel) para o pirarucu, peixe nativo da Amazônia de importância econômica mas que demora a se reproduzir.

Uma das propostas do cientista japonês é que se crie um banco de dados genético com peixes de todas as partes do mundo, congelando células-tronco germinativas em nitrogênio líquido e assim salvar da extinção diversas espécies ao redor do mundo. “Recuperar o meio ambiente leva muito tempo e a técnica permite ter essas espécies preservadas em banco de esperma e óvulo. Seria como um seguro que pode ser usado quando for preciso”, revelou.

Simpósio

Pesquisadores de mais de 20 países participam do Simpósio, que tem como tema Novas fronteiras na diversidade reprodutiva em um ambiente em mudança. O simpósio tem mais de 200 inscritos, entre pesquisadores, profissionais e estudantes, e conta com apresentação de trabalhos de pesquisa em pôsters e 16 palestras principais de cientistas da área de reprodução de peixes.

O objetivo do simpósio é estimular a discussão, aprendizado e troca de informações entre pesquisadores sobre as mais recentes descobertas científicas na área de fisiologia reprodutiva de peixes. O comitê científico internacional é formado por pesquisadores do Brasil, Holanda,  Portugal, Argentina, França, Hong Kong, Índia, Estados Unidos, Canadá, França, Japão, Israel e Noruega. No Brasil a coordenação do evento é do pesquisador Luiz Renato de França, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Junto a pesquisadores de outras instituições, participam com apresentação de trabalhos pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (Amazonas), Embrapa Pesca e Aquicultura (Tocantins) e Embrapa Informática Agropecuária (Campinas).

Os trabalhos de pesquisa da Embrapa Amazônia Ocidental têm duas abordagens. Uma delas é focada no aperfeiçoamento de manejo reprodutivo, com o objetivo de aumentar a frequência do uso de reprodutores e matrizes de tambaqui. Outra linha de pesquisa “é mais na abordagem de identificação de fatores envolvidos no processo de diferenciação sexual de tambaqui e pirarucu, ou seja, o que determina o sexo dos indivíduos nessas duas espécies”, explica a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Fernanda Almeda O´Sullivan, que também integra o comitê local de organização do simpósio.

Cerca de 40% dos participantes são do Brasil. Dentre os 16 cientistas que fazem palestra, apenas dois são do Brasil: Samyra Lacerda, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Ronaldo Barthem, pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Os demais palestrantes são de outros países da América, da Ásia e da Europa.

Diversidade

De acordo com o presidente do evento e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Luiz Renato de França, os peixes constituem o grupo mais diverso e abundante de vertebrados do mundo com quase 30 mil espécies, das quais 13 mil são de água doce e aproximadamente 3 mil estão na Amazônia. “Só isso já mostra a importância do evento para a região, porque hoje grande parte dos peixes consumidos no mundo é cultivada, produzida em tanques e esse é o futuro da piscicultura”, disse França. “Então, para se chegar a um nível de produção de alta qualidade e rentável tem de fazer pesquisa; pesquisa de fertilização, sobrevivência da larva, patologias, ração e tudo mais. Esta é uma vertente que esperamos que resulte em frutos no futuro”, completou.

Esta é a 11ª edição do ISRPF, evento que acontece a cada quatro anos, desde a sua criação em 1977 pelo Prof. Dr. Roland Billard, na França. As edições anteriores foram na Europa, América do Norte e Ásia. Esta é a primeira edição realizada na América Latina. (Da  Embrapa Amazônia Ocidental com informações da assessoria de imprensa do ISRPF 2018)

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