Criada em 29/05/2018 às 05h40 | Agronegócio

Eis o caos: Prejuízos ao consumidor, empresas “machucadas financeiramente” e abalo nos cuidados com genética animal

Produção menor vai gerar redução de oferta e, consequentemente, preço maior dos produtos nos próximos meses. As duas contas vão cair no bolso dos brasileiros. Avicultura e suinocultura sofrem mais. No setor de hortifrútis, a reposição será mais demorada.

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A recuperação do setor produtivo com os reflexos da greve dos caminhoneiros no Brasil pode durar até seis meses. Até lá, além da situação crítica enfrentada pelos profissionais da estrada país afora, o caos vai se instalar em diferentes segmentos da produção brasileira: o consumidor em geral, inclusive os caminhoneiros, pagará a conta duas vezes; as empresas sofrerão abalos e o país perderá (e muito) com resquícios com investimento em melhoramento genético dos animais consumidos internamente e exportados. 

Essas, em linhas gerais, são alguns pontos da análise apurada pelo jornalista Mauro Zafalon, na coluna "Vaivém das Commodities", publicada na Folha de S.Paulo. “O consumidor vai pagar duas vezes pela greve dos caminhoneiros. Essa conta virá não só pela desestruturação atual da produção de alimentos, cuja recuperação poderá durar vários meses, como também pelo pagamento dos subsídios dados ao diesel. A má alimentação dos animais no setor de proteínas, devido à falta de ração nas granjas, deverá comprometer boa parte da produção por até seis meses”, aponta Zafalon.

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SAIBA MAIS SOBRE OS REFLEXOS DA GREVE DOS CAMINHONEIROS NO BRASIL

Segundo ele, a produção menor vai gerar redução de oferta e, consequentemente, preço maior dos produtos nos próximos meses. As duas contas vão cair no bolso do consumidor. “Para reduzir o impacto do efeito da greve, o setor busca preservar pelo menos os animais com alta genética, o que começa a ficar difícil.”

Ele ouviu o diretor operacional da Zanchetta Alimentos Ltda, Carlos Zanchetta, que afirmou que as granjas mantêm estoques de ração e de medicamentos para uma semana, e a greve já entrou na segunda. “Se esse cenário persistir, as empresas vão sair "bastante machucadas financeiramente", com consequências para toda a cadeia: produtores integrados, embalagens e outros insumos, diz Zanchetta.”

Outro ouvido na coluna de Zafalon foi Ariel Mendes, da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Para ele, a preocupação com a genética é procedente. “Uma "galinha avó", com alta genética, gera 45 matrizes poedeiras. E estas geram 140 pintinhos cada uma. A falta de ração e outros insumos num galpão com galinhas avós seria uma perda grande para toda a cadeia, segundo Mendes. Ele dá um exemplo: no caso de um galpão com 10 mil galinhas avós, a falta de ração eliminaria a produção de 450 mil matrizes e, consequentemente, 63 milhões de pintinhos deixariam de chegar ao mercado.”

Ainda conforme o colunista, “o problema do setor é que uma avó demora de seis a sete meses para começar o processo de produção”. “Não seria só o Brasil a ser afetado em um cenário de continuidade da greve dos caminhoneiros, mas toda a América do Sul. O país é o fornecedor de genética para os países da região, afirma Ariel. A Europa também entra na lista dos importadores do Brasil. Os europeus produzem vacinas aviárias com base em ovos embrionados do Brasil”, escreve.

NA SUINOCULTURA

Para Valdomiro Ferreira Júnior, presidente da APCS (Associação Paulista de Criadores de Suínos), também ouvido pelo jornalista, diz que a situação não é diferente na suinocultura. “Um animal com potência genética custa R$ 24 mil e leva anos para chegar a esse patamar. "A perda de genética reduz a oferta de carne e a qualidade final do produto." Além disso, a perda de genética pode comprometer a evolução do animal, que dura 180 dias. A ausência de genética reduz a homogeneidade da carne, exigida tanto pelo mercado interno como pelo externo. O Brasil exporta 24% da produção nacional, afirma Ferreira Júnior”, destaca.

OS HORTIFRÚTIS

Ainda conforme o colunista, no setor de hortifrútis, há problemas na comercialização atual, mas a reposição será menos demorada, afirma Marina Marangon, analista de hortifrútis do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). “Alguns produtos, como batata e cenoura, podem ficar mais tempo na terra, embora percam um pouco das qualificações exigidas pelo mercado. O retorno das hortaliças ao mercado, porém, poderá demorar um pouco mais. A área de plantio é restrita, e o novo plantio depende da retirada da safra anterior.”

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